Leia sempre, a leitura transforma.

Leia sempre, a leitura transforma.



sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Gabriel Perissé: “A escola não ensina a ler para questionar"

Para o autor de 'Ler, Pensar e Escrever', doutor em Filosofia da Educação, não saber ler bem é a maior falha de quem não escreve bem

CAMILA GUIMARÃES - 15/02/2015 10h00

 

Gabriel Perissé: "Ler bem significa tirar sentido de um texto, gerar um raciocínio.
É um exercício também de imaginação". (Foto: Foto/ Divulgação)

ÉPOCA - Qual é a principal habilidade que falta nos jovens que não sabem escrever bem?
Gabriel Perissé - A leitura é uma prática que precede a escrita. Estou falando de uma leitura interpretativa, não apenas mecânica. Ler bem significa tirar sentido de um texto, gerar um raciocínio. É um exercício também de imaginação.

ÉPOCA -
Como ensinar esse tipo de leitura?
Perissé - Ela envolve três fatores: a qualidade dos textos que circulam, o acesso a eles e mediação necessária entre o leitor e o texto, que é feita pelo professor e pelos pais. Sobre esse último ponto, temos um problema e tanto. Para começar, os professores não leem. Consequentemente, também não escrevem. Temo falhas sérias na formação dos que têm a função de ensinar a ler. A escola não ensina a ler para questionar, ensina a ler para acatar. Daí surgem os leitores com dificuldade para entender ironias, as entrelinhas. E não adianta nada aulas com macetes, técnicas, dicas e truques. Isso não resolve o problema.

>> Use a internet para escrever melhor

ÉPOCA - Qual é a origem dessa má formação dos professores e da baixa qualidade das escolas?
Perrissé- Há um contexto histórico. Até as décadas de 60 e meados da década de 70, tínhamos uma leitura sofisticada. Até na imprensa. Pense em textos de Nelson Rodrigues, por exemplo. Ou do Otto Lara Resende. Depois os textos de jornais e revistas entraram num período mais técnico, neutro e objetivo. A ditadura militar, por sua vez, apagou qualquer estímulo ao pensamento crítico, ao mesmo tempo em que a escola passou a ser acessível para muito mais gente. A partir dos anos 80, colhemos o resultado disso. Surgiu uma geração que não sabe criticar, ponderar, a pensar por conta própria, que busca nos textos não a contundência de antes, mas apenas a informação. A formação ruim dos professores é fruto desse cenário. O próprio curso de Letras ficou desprestigiado.

ÉPOCA - Há alguma melhora nesse cenário?
Perissé - Há muitas tentativas. Talvez daqui a 15 anos melhore, se tudo der certo, mas acho que ainda sofremos hoje as consequências desse passado. Tem aí uma molecada de 11, 12 anos, filhos de uma geração mais antenada, que leu Harry Potter – obra contemporânea e de qualidade – que se liga mais em leitura, que descobriu que ler pode ser bacana graças a essa obra. Para os pais, um aviso: envolva seu filho na leitura. Quando nos cercamos de pessoas com certas habilidades, fica muito mais fácil aprender e gostar. Não dá tempo de ler junto todo dia? Leva para passear na livraria.



Fonte: Revista Época - www.epoca.com.br


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Universidade nos EUA inaugura biblioteca sem livros

Do UOL*, em São Paulo 26/08/2014



Florida Polytechnic University apresenta sua biblioteca sem livros
A inauguração de uma biblioteca numa universidade pode não ser uma prática tão incomum. No entanto, a proposta da Florida Polytechnic University (Universidade Politécnica da Flórida, em tradução livre) surpreendeu muitos estudantes ao propor um espaço sem um único livro físico – a não ser que o próprio aluno leve um livro "de papel" para estudar.

De acordo com informações da agência de notícias "Reuters", a biblioteca da instituição tem um acervo de mais de 135 mil e-books (livros digitais), que podem ser acessados por tablets, leitores digitais ou computadores.

"É uma relevante decisão para avançar sem livros", disse Kathryn Miller, diretora de bibliotecas da instituição. "Em vez de o bibliotecário colocar os livros que eu acharia relevantes na estante, os estudantes é que estão escolhendo."

A Florida Polytechnic tem um orçamento de US$ 60 mil para adquirir novos livros digitais.

Sem a necessidade de organizar pilhas e mais pilhas de livros, os funcionários da biblioteca terão o papel de orientar os alunos e treiná-los no gerenciamento dos materiais digitais.

Mesmo com a inovação, os estudantes ainda poderão solicitar empréstimos "à moda antiga" de livros oferecidos por outras 11 universidades públicas da Flórida.

Reuters
O prédio da universidade foi projetado pelo arquiteto Santiago Calatrava



segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Projeto 'Tem Mais Gente Lendo' quer incentivar a leitura em espaços públicos



Redação em 20 de fevereiro de 2015

Existe uma máxima popular que diz que brasileiro não lê. Essa é uma ideia que tem sido negada diariamente por um projeto nas redes sociais chamado justamente “Tem Mais Gente Lendo”. Criado por dois amigos, o projeto divulga fotos e vídeos de pessoas lendo livros físicos e digitais em espaços públicos dos grandes centros urbanos.

Tudo começou com uma hashtag criada por Sérgio Miguez, um dos criadores. “Sou usuário do Metrô de São Paulo e, de uns tempos para cá, chamou a minha atenção o número surpreendente de passageiros com um livro nas mãos. Comecei a fotografar com o meu celular e, com a hashtag #temmaisgentelendo, passei a publicar as fotos nas redes sociais”, conta.


divulgação

Projeto que nasceu de uma hashtag no Instagram reúne mais de 800
fotografias de pessoas lendo em diferentes espaços das grandes cidades 

Amigo de Miguez, Hamilton dos Santos decidiu aderir à hashtag e passou a publicar, no Facebook, suas fotos de pessoas lendo no metrô de SP. A novidade recebeu ótima audiência. “Começamos no metrô, mas já estamos expandindo o projeto: agora, nossas câmeras também vão flagrar pessoas lendo em outros espaços públicos, como parques, ônibus e praias”, comenta.

Segundo Sérgio, o TMGL (como é chamado pelos criadores) estimula o hábito e a prática da leitura não por meio de discursos edificantes ou argumentação moral (do tipo “ler é bom”, “ler é a salvação”), mas por meio do uso intensivo da imagem, da estética e, principalmente, da tecnologia digital.

Além das redes sociais

divulgação

Projeto ganhará um site com conteúdos ligados à leitura no final de março
Já são mais de 800 fotos publicadas e compartilhadas nas redes sociais pelo projeto. Para quem gosta de livros e literatura, os criadores preparam uma novidade. Em março será lançado um site que, além de fotografias, terá conteúdos ligados à leitura, como “Rankings dos Mais Lidos no Metrô de SP”, pesquisas sobre hábito de leitura, ensaios e entrevistas.

“Logo na estreia do site, trazemos uma entrevista exclusiva com o fotógrafo holandês Reinier Gerritsen, autor do projeto The Last Book (O Último Livro), que flagra pessoas lendo no metro de Nova York”, revela Sérgio Miguez.

Para conhecer mais sobre o projeto e acompanhar as novidades, basta acessarwww.facebook.com/temmaisgentelendo.


Fonte: Catraca Livre

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Professora de Araraquara (SP) espalha livros com bilhetes


G1 - 31/01/2015


Uma moradora de Araraquara (SP) apaixonada por literatura resolveu espalhar livros pela cidade. A ideia é levar às pessoas nas ruas alguns títulos de bibliotecas e facilitar a leitura diária. Em três semanas, ela já deixou 120 obras em quatro bairros.

“Se as pessoas não vão até os livros, eu levo os livros até as pessoas. Ler é um dos meios para a gente viajar e conhecer mundos”, justificou Darcy Aparecida Dantas, professora, escritora e integrante da Academia de Letras da cidade.

Ela contou que se inspirou em projetos desenvolvidos na região para colocar a ideia em prática e arrecadar os livros. Alguns exemplares faziam parte de sua coleção e outros foram doados por parentes e amigos. Uma vez entregues para o projeto, os títulos foram embalados em plásticos para evitar que se deteriorassem com a chuva e cada um ganhou um bilhete de incentivo.

Um deles chegou ao aposentado Francisco Paiva Neto. Ele encontrou uma obra no banco da Praça da Matriz e não perdeu tempo. “Eu adoro livros, adoro ler e gostaria que muita gente fizesse o mesmo para aprender um pouco mais, para ter mais noção da vida e para pararmos de ser tão ambiciosos”, comentou.

Petrônio Alves de Azevedo também encontrou um exemplar. O livro estava no ponto de táxi onde trabalha. Ele contou que viu duas pessoas passando pela embalagem, mas elas não se interessaram e ele decidiu se aproximar. “Eu gosto muito de ler, então para mim é um tesouro. Você acaba se transformando no personagem do livro e vive a história”, disse.

Agora ele tem um companheiro enquanto espera por passageiros e sabe que, quando acabar a aventura, deve passá-la adiante. “Há pessoas que não têm condições de comprar um livro e, quando você passa, dá o direito de outras pessoas aprenderem também”.

Veja o vídeo no link: http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2015/01/professora-espalha-120-livros-em-araraquara-para-incentivar-leitura.html.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Quem lê viaja: empresa paga R$ 100 por cada livro que funcionários leem


André Nicolau em 5 de fevereiro de 2015
 
Ao fim do ano, a bonificação pode chegar até 1800 reais

Em São Paulo, a empresa AlphaGraphics decidiu incentivar seus funcionários de um jeito diferente. Ciente de todos os benefícios promovidos pela leitura, eles lançaram o programa de incentivo à leitura entre seus colaboradores. A princípio, o projeto beneficiou cerca 30 de profissionais de duas redes da capital paulista, mas a ideia é estender a campanha para as unidades de todo país.

Reprodução

Campanha realizada em duas empresas da cidade de São Paulo

Após ler um livro, que obrigatoriamente deve envolver o tema de negócios, o funcionário pode fazer a apresentação da obra para a equipe da AlphaGraphics, expondo seus principais conceitos somado aos próprios conhecimentos adquiridos. Se for aprovado pelos colegas, o leitor ganha R$ 100.

Assim, caso consiga realizar 12 apresentações, todas aprovadas pelo time, o funcionário ainda ganha mais R$ 600 como prêmio, atingindo R$ 1.800 de bonificação extra por ano.

Todos os colaboradores da AlphaGraphics têm acesso à biblioteca interna com mais de 140 livros de negócios disponíveis, como "A Loja de Tudo", "O Verdadeiro Poder", "O 8º Hábito - da Eficácia à Grandeza" e "Startup Enxuta", entre outros.



segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Quer ler no trânsito? Chame o bibliotáxi


G1 - 04/02/2015


Minibibliotecas estão sendo instaladas nos veículos para que os clientes esqueçam do trânsito e coloquem a leitura em dia. Por meio de um aplicativo celular, a pessoa pode chamar o táxi que tem a minibiblioteca em seu veículo. A leitura é grátis e, se chegar no seu destino final sem terminar de ler, o cliente pode levar o livro para casa. A devolução pode ser feita em qualquer outro táxi do mundo cadastrado no aplicativo.

O aplicativo foi criado por um brasileiro e hoje é usado em 180 cidades de 35 países. O gerente do aplicativo, André Dionísio, disse entender a necessidade de melhorar a leitura no país. "Nós colocamos os livros dentro do táxi e ajudamos as pessoas para que tenham acesso à leitura", disse o gerente.

Ele ainda relata que o Brasil tem um grande problema de congestionamento no trânsito e isso ajuda o cliente as se distrair. “Ao ler, o passageiro se distrai e nem percebe o trânsito lá fora”, afirmou André. Os táxis cadastrados no aplicativo são abastecidos por uma rede de livrarias, mas também são aceitas doações. São mais de 800 mil exemplares que circulam no táxis.

Veja o vídeo da reportagem no link http://g1.globo.com/mato-grosso/noticia/2015/02/minibibliotecas-sao-instaladas-em-taxis-para-incentivar-leitura-em-mt.html.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Jovens, blogueiras e apaixonadas por livros e leitores

acritica.com - 25/01/2015

Muitas pesquisas apontam que o índice de leitura do brasileiro é de quatro livros por ano. Mas se excluídas as obras indicadas por escolas e faculdades, ou seja, quando considerada apenas a leitura espontânea, chega-se ao baixíssimo índice de pouco mais de um livro por ano por pessoa. Porém existe aquela minoria que não se encaixa nessa realidade. E não bastasse o amor pela leitura, resolveram passar para “o outro lado”: se tornaram escritores e conseguiram lançar as próprias obras.

“Lembro que, desde pequena, já gostava muito de ler. Ganhava meu dia quando me presenteavam com aqueles livrinhos infantis que têm mais figuras que texto. Uma vez, ganhei o livro baseado no filme da Disney “A Bela e a Fera”, que eu já amava. E esse tinha mais texto do que figuras e foi um desafio ler ‘tuuuuudo’ aquilo. Mas, daí, me encantei com aquele mundo que eu mesma criava na minha imaginação; já nem olhava as imagens, apenas imaginava”, diz Marcia Luisa Bastilho Gonçalves, 23.

Natural de Santana do Livramento (RS), a jovem universitária do quinto período de Letras se declarou uma “viciada em livros” e chega a ler até 200 por ano. Aos dez anos, ela “descobriu” a biblioteca da escola onde estudava e se deslumbrou com a história de “Harry Potter”, os poemas de Cecília Meireles e Ferreira Gullar, e as peças de Shakespeare. “Mas o meu livro preferido, até hoje, é “Os Miseráveis”, de Victor Hugo”, afirma, ao ressaltar que ele foi a inspiração para se arriscar na arte de escrever.

“Tenho certeza absoluta que comecei a escrever por causa desse livro. Lembro que peguei a versão escolar – mais fininho e com linguagem mais ‘acessível’ – na sexta-feira. E, no sábado à tarde, já estava acabando de ler. Quando me dei conta que estava chorando, fechei o livro após a última frase e disse baixinho para mim mesma: ‘É isso. É isso que eu quero fazer’. Me referia a fazer alguém chorar, ser tocado com as palavras escritas por mim, deixar de ver a personagem para vê-la como pessoa. Como real”, completa Marcia.

Após essa “epifania literária”, a gaúcha se dedicou a escrever pequenos contos, poemas e histórias. Sempre em meio aos livros, a blogueira se encontrou na Internet. “Aos 14 anos, meu vício literário ‘piorou’. Conheci outro mundo mágico: dos PDFs, fanfics [ficção criada por fãs] e comunidades do Orkut. Foi quando cheguei a ler mais de 200 livros em um ano”, diz.

Paixão virou trilogia

Com o “boom” do vampirismo em livros, filmes e séries, a universitária mergulhou de cabeça nas histórias de fantasia. “Cinema e literatura sempre andam juntos. Tudo que era de vampiro, eu corria atrás. Então, me deparei com um filme realmente ruim, enredo previsível e efeitos visuais precários... E tive outra epifania. Pensei: ‘se eu gosto tanto de vampiro, por que eu mesma não escrevo um filme?’. Foi nessa época que me veio a história ‘The Burns’, minha série de livros de vampiros”, declara.

Três anos depois, ela lançou a primeira obra da série, “Chamas de Sangue”, em 2011. A continuação, “Cidade em Chamas”, chegou às livrarias 12 meses depois. Ambos publicados pela editora Literata, selo da Arwen. “Agora, estou escrevendo o terceiro: ‘Fugindo das Chamas’. Acredito que qualquer escritor tem que ser leitor. Amar tanto imaginar que, ao ler um livro, crie suas próprias imagens, não se contente em apenas viver em um mundo inventado por alguém; e, sim, criar um completamente novo”, suspira.

Leitura precoce

Enquanto a maioria das crianças cresce em meio a brinquedos, Barbara Dewet, 28, foi rodeada por literatura. Filha de professora e de um músico, sempre ganhou livros de presente. Aos três anos de idade aprendeu a ler sozinha e devorou “Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda”. “As pessoas custam a acreditar. Acabei aprendendo a identificar letras e palavras sem a ajuda de ninguém e isso me ajudou muito a ser uma leitora voraz por anos a fio. Li sozinha, sentada em um quarto de brinquedos que eu e minha irmã dividíamos”, lembra.

Enquanto os coleguinhas corriam pelo playground, Babi Dewet, como é conhecida no cenário literário, se dedicava aos cadernos, canetas, giz de cera e brincadeiras de escolinha. “Meu livro favorito quando criança era ‘O Mundo de Sofia’ que, hoje em dia, não é comum na leitura das crianças. Mas eu adorava, junto com alguns do Paulo Coelho e outros autores”, revela a escritora, professora e administradora.

Após descobrir a série “Harry Potter” na adolescência, a carioca foi apresentada às fanfics e começou a compartilhar as próprias histórias, guardadas em cadernos, com outros fãs online. Desde então, pegou o “gosto” pela escrita e desistiu de contar a quantidade de livros lidos. “Decidi lançar meu próprio livro, baseado em uma fanfic, em 2009. Assim, minha vida como escritora começou de verdade. Hoje, tenho três livros lançados: a trilogia “Sábado à Noite”. E muitos projetos para esse ano”, conclui Babi.

‘Caminho natural’

Aos 22 anos, a também carioca Iris Figueiredo já lançou dos livros — “Dividindo o mel” e “Confissões de uma adolescente online” — e a série “Amores Proibidos”. “A leitura sempre esteve presente em minha vida, já que meus pais também são amantes de livros. Em um ano, cheguei a ler uma média de cem livros. Hoje em dia, com o ritmo corrido, me mantenho entre 50 ou 60 por ano, mas ainda é bem mais que a média nacional, quatro. Costumo brincar que leio por muitas outras pessoas”, declara.

A autora sempre teve vontade de escrever e, aos 14 anos, publicava alguns textos na Internet. “Foi um caminho natural. A Iris escritora sempre andou ao lado da Iris leitora. Terminei meu primeiro livro aos 17 anos, mas publiquei apenas aos 19, por causa da agenda da editora. Foi uma emoção incrível. Este ano, lanço o terceiro e já estou escrevendo o quarto. Não pretendo parar tão cedo”, ressalta.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Um livro que se recusa a ser julgado só pela capa

Brasil Post - 02/02/2015



O ditado popular é bem claro: "não julgue um livro pela capa". É um adágio que faz sentido: muitas narrativas espetaculares estão escondidas atrás de capas horríveis ou de títulos péssimos.

Um exemplo de bom livro com capa medonha é a edição brasileira de 1981 de "Lolita", do escritor Vladimir Nabokov:


Mas isso agora mudou — a capa do livro é que julga o leitor. O designer Thijs Biersteker e o estúdio holandês Moore criaram uma capa de livro que, com ajuda de tecnologia de ponta, não abre se o leitor mostrar sinais de julgamento. Uma câmera integrada e um sistema de reconhecimento facial fazem a leitura do rosto da pessoa, e o livro é desbloqueado apenas se as expressões forem neutras.

"Meu objetivo é criar uma capa de livro que seja humana e de alta tecnologia. Quando você se aproxima do livro, se está empolgado demais ou se demonstrar ceticismo, o livro permanecerá travado", explica Biersteker em seu site. "Mas se sua expressão for neutra — ou seja, sem julgamentos —, o sistema enviará um pulso e o livro se desbloqueará. Eu sempre me preocupo com a possibilidade de meu ceticismo ou meu julgamento atrapalhar minha admiração. O julgamento nunca deve impedir o entusiasmo incansável de ver as coisas pela primeira vez.”

Para assistis ao vídeo sobre a ferramenta, acesse o link http://www.brasilpost.com.br/2015/02/02/julgar-capa-livro_n_6600072.html?utm_hp_ref=tw.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Salgado Maranhão: a trajetória de um encantador de palavras

O Globo - 01/02/2015


RIO - “Com essa pontualidade, vocês não devem ser cariocas”, brinca o poeta, jornalista e compositor Salgado Maranhão ao abrir a porta do seu apartamento, em Laranjeiras, para receber a equipe do GLOBO. A frase de boas-vindas revela a intimidade com a cultura do Rio de um nordestino que mora na cidade há mais de 40 anos. Por isso, muitas vezes o sotaque maranhense dá lugar ao carioca. E foi a partir desse choque cultural que o poeta, analfabeto até os 15 anos, construiu sua sintaxe, publicou livros e ganhou diversos prêmios.

Filho temporão do comerciante Moacyr dos Santos Costa e da camponesa Raimunda Salgado dos Santos, José Salgado Santos se define como uma mistura de “casa-grande com senzala”, uma vez que o pai pertencia à elite maranhense e a mãe era descendente de escravos. Ele nasceu no povoado de Canabrava das Moças, no município de Caxias, no Maranhão, cidade que foi berço também de autores como Gonçalves Dias e Coelho Neto. Foi criado pela mãe, que se separou do marido afirmando que tinha uma missão com o filho.

Ele não revela que missão era essa — confirma apenas que ela foi cumprida. E lembra que foi a mãe quem, mesmo analfabeta, imprimiu nele o gosto pela música e pela cultura popular.

— Eu me eduquei ouvindo os tambores de crioula (manifestação cultural afro-brasileira existente no Maranhão) e os cantadores repentistas, que minha mãe costumava hospedar na nossa casa. Ela sempre foi uma apaixonada pela cultura popular. A poesia que entrou na minha vida começou aí — lembra.

O acesso ao conhecimento, porém, era muito limitado em Caxias do Maranhão na época. Professores apareciam na região no período de férias apenas para ensinar as primeiras letras. Por isso, a família — Raimunda, Salgado e dois irmãos por parte de mãe — migrou para Teresina, no Piauí. Lá, o poeta descobriu o que chamou de parque de diversões: uma biblioteca. A escassez de áreas de lazer aproximou ainda mais Salgado dos livros, e a alfabetização, que começou tardia, foi concluída em 1968:

— Eu consegui fazer todas as séries em três anos e meio. Descobri que tinha muita facilidade para aprender e, além disso, muito entusiasmo para recuperar o tempo perdido. Eu estudava intensamente nas férias e fazia Telecurso nos fins de semana.

Era o que faltava para o poeta iniciar uma vida voltada para a palavra escrita. Ainda na época da alfabetização, Salgado lia, em média, dois livros por semana. Hoje, em seu apartamento em Laranjeiras, as estantes abarrotadas confirmam a continuidade dessa paixão. O escritor não lê menos que quatro obras ao mesmo tempo.

POEMAS LIDOS NO RÁDIO

Ainda no Piauí, onde morou durante quatro anos, o poeta começou a publicar seus textos em jornais locais e a lê-los em programas de rádio. Mas Teresina parecia pequena demais para os seus sonhos. Com o objetivo de ver suas obras em livrarias e fazer contatos com intelectuais — além entrar no mundo da música —, ele um dia deixou a família no Nordeste e se mudou sozinho para o Rio de Janeiro. Chegou em 9 de abriu de 1973.

— Era uma manhã linda. Quando cheguei aqui, sabia que não ia mais sair — lembra.

Ele diz que, na época, eclodia na cidade a chamada poesia marginal. Cinco anos depois, Salgado publicou seu primeiro livro: “Ebulição da Escrivatura: treze poetas impossíveis” — realizando, enfim, o antigo desejo de quando era menino e, morando numa casinha de sapê, imaginava suas palavras transformadas em letra impressa.

De lá para cá, já são 12 livros publicados e cinco grandes prêmios para o currículo, um deles o mais importante de literatura no Brasil, o Jabuti, em 1999, com “Mural de ventos”. Um ano antes, “O beijo da fera” já havia lhe dado o Prêmio UBE (União Brasileira dos Escritores).

Seus poemas têm uma linguagem urbana, influenciada pela vida na metrópole, mas ecoam também os anos passados no interior. Entre os escritores que o influenciaram, estão os conterrâneos Gonçalves Dias e Coelho Neto, além de Camões, Fernando Pessoa, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade.

A poesia de Salgado conquistou a admiração de alguns craques da literatura nacional. É o que atesta um deles, o amigo e também poeta Ferreira Gullar.

— A poesia é, para Salgado Maranhão, como pão e água, ele depende dela para viver — diz. — Trata-se de uma rara mescla de encantador de palavras e artesão exigente.

Do Rio, a poesia de Salgado ganhou o mundo. Ele tem livros traduzidos para línguas como inglês (caso de “Sol sanguíneo”, ou “Blood of the sun”), italiano, alemão e polonês. Agora, está para lançar em japonês sua última obra, “O Mapa da tribo”, com tradução de Felipe Hiro.

— Eu vi meus livros em livrarias importantes lá de fora, expostos como se fossem best sellers — orgulha-se.

O interesse pela poesia de Salgado no exterior é atestado por Luiz Fernando Valente, professor de estudos portugueses e brasileiros e literatura comparada da Brown University, em Providence, Rhode Island (EUA). “Considero Salgado Maranhão uma referência na poesia contemporânea brasileira devido à alta qualidade de sua obra”, diz, por e-mail. Segundo ele, o trabalho do maranhense “vem recebendo crescente atenção em cursos e publicações sobre a poesia contemporânea brasileira nos Estados Unidos e em outros países estrangeiros”.

Apesar do interesse, Salgado ressalta:

— Poesia não dá dinheiro.

Assim, uma das suas fontes de recursos é a realização de conferências sobre literatura. Uma delas aconteceu justamente na Brown University, onde conheceu o tradutor Alexis Levitin, que acabaria vertendo para o inglês quatro de seus livros. Graças à amizade com Alexis, o poeta foi convidado, em 2012, a fazer uma excursão de três meses pelos Estados Unidos. No total, ele fez palestras sobre literatura brasileira em 52 universidades de 27 estados.

Formado em comunicação social pela PUC, Salgado também diz que atua como consultor cultural. Um exemplo desse trabalho, acrescenta, é a coordenação do Salão do Livro do Piauí.

MAIS DE 50 MÚSICAS GRAVADAS

A intimidade com a música o levou também para a música — outra fonte de recursos. Com Herman Torres, por exemplo, compôs “Caminho de sol”, da trilha sonora da novela “A viagem”, da TV Globo. “São mais de 50 canções gravadas”, frisa. Entre os artistas que interpretaram suas músicas, estão Zizi Possi, Elba Ramalho, Ney Matogrosso e Ivan Lins. Com este, é parceiro em “Para alegrar coração de moça”.

— Salgado Maranhão é um dos mais brilhantes poetas de sua geração. Um malabarista de palavras. Um prestidigitador de sentidos — diz Ivan, que recorre à poesia para descrever o escritor. — Um encantador de serpentes literárias e libertárias. Um emotivo nato, mato, fato, gato em teto de zinco quente, ardente, semente de seu intenso coração.

Vaidoso, o escritor, nascido em novembro de 1953, não gosta de revelar a idade — “se alguém insistir, diz que tenho quase 60”, pede. Na hora da foto, ele, que já vestia uma blusa social de mangas compridas, escolhe a dedo um blazer preto.

— O perfeccionismo é uma característica do poeta — justifica.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

As boas histórias do garçom e mochileiro em 52 países em livro

G1 - 27/01/2015


As histórias do mochileiro Mayke Moraes Pinto, que já visitou 52 países, vão virar um livro. O garçom, que vive em Dublin, na Irlanda e está de férias em Varginha (MG) até março, pretende contar todas as histórias que coleciona em suas mochiladas pelo mundo.

"O livro já começou a ser escrito, já estou com pouco mais de 80 páginas prontas e se tudo der certo, a gente tem a intenção de lançá-lo em setembro ou outubro deste ano. Vou relatar tudo o que aconteceu comigo nesses 52 países que visitei. As coisas que eu não conto na minha página na internet, eu vou estar relatando neste livro. Será um livro sem papas na língua", diz Mayke.

O G1 tem acompanhado as viagens do mochileiro, que tem o objetivo de conhecer 100 países antes de morrer. Com apenas uma mochila nas costas, uma máquina fotográfica e um computador pessoal, ele já cumpriu metade de seu objetivo. Mayke chegou a Varginha no início deste mês após ficar 12 meses na estrada e conhecer 19 novos países.

"É estranho (estar em Varginha). Porque nesses 7 anos que eu estou fora, esta é a segunda vez que eu estou vindo pra cá. É muito bom rever familiares e amigos. Mas ao mesmo tempo é estranho, porque eu me sinto como um turista na minha própria cidade e não a sensação de que estou voltando para a casa", conta o mochileiro.

Antes de voltar ao Brasil, Mayke passou por países como Bósnia e Herzegovina, Kosovo, Turquia, Egito e Israel. Mayke, que gasta todo o dinheiro que ganha no emprego como garçon somente em viagens, diz querer provar para as pessoas que viajar pelo mundo não é tão caro.

"As pessoas têm a ideia errada de que você tem que ter dinheiro para viajar o mundo todo, e não é bem assim. Nesses quatro anos que eu estou na Irlanda, já trabalhei de camareira, lavador de pratos, entregador de jornal e meu último emprego foi de garçon. Tudo que eu ganho eu gasto em viagens. São escolhas. Enquanto outras pessoas compram eletrônicos, carros, casas, eu prefiro investir em viagens. Para mim, este é o melhor investimento", diz Mayke.

Perguntado se voltaria aos países que já visitou, Mayke diz que retornaria a todos, sem exceção. No entanto, tem um país que ele já adotou em seu coração e por ele nutre uma paixão em especial.

"A receptividade que eu tive em todos os países que eu visitei, é de lembrar e marejar os olhos, de dar dor no coração. A Tailândia foi o país que mais me chamou a atenção. Eu estive lá em 2012, passei três meses e foi surpreendente. Foi lindo de Norte a Sul. Mesmo tendo o problema da briga (ele levou um soco e teve o nariz quebrado na saída de uma boate), eu ainda amo aquele país. A cultura do povo tailandês é demais", disse o mochileiro.

Mayke ficará em Varginha até o dia 10 de março, quando então ele retornará para a Irlanda para retomar o trabalho de garçon e juntar dinheiro para viajar por destinos ainda desconhecidos. Seu próximo projeto será fazer uma mochilada por um período maior, de cerca de dois anos, por países da América Central e América do Sul.

Veja o vídeo sobre essa aventura no link: http://g1.globo.com/mg/sul-de-minas/noticia/2015/01/livro-ira-reunir-historias-de-mochileiro-de-mg-que-quer-conhecer-100-paises.html.


quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Treineira com deficiência auditiva faz 1000 no Enem

O Globo - 19/01/2015


RIO - A família da estudante Mariana Pereira Pimenta, de 17 anos, tem motivos de sobra para se orgulhar. Mesmo com deficiência auditiva, a menina superou os obstáculos e tirou nota 1000 na redação do Enem 2014, quando ainda estava no 2º ano do ensino médio. Aluna do Colégio Opção A de Maricá, ela quer cursar Ciências Econômicas na UFRJ ou na UFF. (Leia a redação dela ao fim da matéria).

- Não há nenhum atendimento especial pelo fato de eu não necessitar, mas é claro que a escola e os professores sabem da minha deficiência. Em alguns momentos, como no início de ano letivo, pedi para que alguns professores evitassem falar de frente para o quadro e de costa para a turma visto que faço leitura labial - explica Mariana.

Sem a tradução das aulas em Libras (Língua Brasileiral de Sinais, usada para comunicação com pessoas suradas), a estudante também conta com a ajuda dos amigos para tirar eventuais dúvidas:

- Às vezes tenho dificuldades, por algumas determinadas falas passarem despercebidas para mim. Mas, desde pequena já sei lidar com minha deficiência e, muitas vezes, até minhas amigas me ajudam. Por exemplo, quando os professores resolvem ditar a matéria, eu vou copiando de algum colega ou pego o caderno emprestado ao fim da aula.

O gosto pela leitura e pela escrita vem da infância. As aulas ajudaram-na a corrigir falhas e aperfeiçoar seu talento. O suficiente para tirar nota máxima no tema proposto pela banca do Enem 2014: "Publicidade infantil em questão no Brasil".

- Já tive meus pontos fracos em redação, embora tenha facilidade com temas sociais. Neste ano, com constantes práticas e atenção às aulas, comecei a ir melhorando aos poucos e transmitindo na redação os ensinamentos aprendidos. Ler é uma coisa de que gosto muito, principalmente jornais, que leio todos os dias desde pequena. Daí é que vem minha facilidade em entender os temas sociais - explica Mariana.

Leia abaixo a redação de Mariana Pimenta, copiada de seu rascunho

A publicidade vem sendo valorizada com a constante globalização, onde o marketing se apropria em atingir diferentes parcelas populacionais. A questão da publicidade infantil vem ganhando destaque no cenário mundial, sendo criticadas suas grandes demandas dirigidas à criança, persuadindo-as em favor do consumismo.

Com a crescente classe média do país, onde milhares de brasileiros são favorecidos pelos créditos governamentais, o consumismo vem afetando toda essa parcela populacional, deixando no passado a falta de eletrodomésticos e a participação social favorecida as elites. Com participação das principais mídias, agrava o abuso do imaginário infantil ao mesmo tempo em que favorece na distinção do benéfico e maléfico ao padrão de vida individual.

É cabível que a anulação da publicidade infantil põe em xeque os ideais democráticos, confrontando tanto as famílias como o mercado publicitário, discriminando tal faixa etária ao mesmo tempo prejudicando o mercado consumidor, fator que pode levar a uma crise interna e abdicar do desenvolvimento comercial de um país subdesenvolvido.

Portanto, a busca da comercialização muitas vezes abrange seu favorecimento através do imaginário infantil com os ideais seguidos por seus ídolos. Entretanto, é de responsabilidade dos pais na conscientização do bom e/ou ruim, em conjunto com a escolaridade infantil na abdicação do consumismo ao mesmo tempo em que o governo estude medidas preventivas que busquem o controle da exploração publicitária sem que atrapalhe o andar econômico do país.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Livro sobre Agricultura Campesina na América Latina em eBook

Bonde.com.br - 16/01/2015

O livro Agriculturas campesinas en Latinoamerica: propuestas y desafios, produzido no âmbito do Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, está disponível para download gratuito.

A publicação tem participação de professores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), do campus de Presidente Prudente.

Antonio Thomaz Júnior escreveu o artigo Movimiento territorial del trabajo en el campo y de la clase trabajadora, no qual aborda as mudanças que têm ocorrido no âmbito do trabalho no campo desde a década de 1980.

"O movimento de territorialização, desterritorialização e reterritorialização de trabalho no Brasil, portanto, sua própria dinâmica geográfica, nos permite compreender a realidade das famílias trabalhadoras camponesas, dos incontáveis contingentes de trabalhadores e trabalhadoras saídos dos centros urbanos, que carregam formações e conteúdos socioculturais distintos, mas que especificam o conflito de classes e criam/constroem em seu interior os territórios de resistência", disse Thomas Júnior.

O pesquisador coordena o Projeto Temático "Mapeamento e análise do território do agro-hidronegócio canavieiro no Pontal do Paranapanema - São Paulo - Brasil: relações de trabalho, conflitos e formas de uso da terra e da água, e a saúde ambiental", apoiado pela FAPESP.

No artigo Cuando la agricultura familiar es campesina, Bernardo Mançano Fernandes destaca a importância estratégica da agricultura camponesa para garantir a soberania alimentar e analisa como a produção teórica no setor é influenciada e influencia as políticas de desenvolvimento territorial no campo.

O livro pode ser lido em: http://editorial.iaen.edu.ec/wp-content/uploads/2014/12/Agriculturas-campesinas-propuestas-y-desaf%C3%ADos-web.pdf.

(Redação Bonde/ Agência FAPESP)