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quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Professor encontra anúncios de livro nunca publicado de Machado de Assis

G1 - 10/10/2016

O professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) que no ano passado encontrou um poema desconhecido de Machado de Assis agora fez uma nova descoberta: achou duas notas e um anúncio sobre o possível lançamento de um livro de poesias do escritor que nunca foi citado em sua biografia.

Por cerca de um ano, o enfoque do professor Wilton Marques foi procurar pistas sobre a produção literária da juventude de Machado de Assis. Para tentar entender a formação do autor, dos 15 aos 21 anos, a opção foi se aprofundar nos arquivos do principal jornal da época, o "Correio Mercantil", onde o autor trabalhava como revisor.

“A grande questão é entender como um jovem poeta de 17 anos, negro, se insere no universo intelectual brasileiro de uma sociedade escravocrata", disse o professor de letras.

"Eu estudo Machado há um tempo e nunca tinha ouvido falar nesse livro ou nesse título. Evidentemente, o que aconteceu? Isso aguçou muito mais a minha curiosidade e aí eu comecei a procurar desesperadamente alguma coisa sobre esse livro”, disse Marques.

Grito do Ipiranga

Em março de 2015, o professor encontrou o poema "Grito do Ipiranga", que permanecia esquecido em uma das edições do jornal. Na época, o autor assinava Joaquim Maria Machado de Assis.

Segundo Marques, o texto não chama atenção pela qualidade literária, mas por mostrar um Machado adolescente e em fase de amadurecimento intelectual. Os 76 versos foram uma forma de homenagear o Dia da Independência, um tom nacionalista que o escritor logo abandonou.

Após a descoberta do poema, o pesquisador contou que uma das questões levantadas foi se haveria, no arquivo digital com mais de cinco milhões de textos, outras obras perdidas do autor.

“É possível que apareçam outras. Como dizem os futebolistas, o Machado é uma caixinha de surpresas, ele sempre acaba surpreendendo. Como ele produziu grande parte da obra dele para jornal, então é muito provável que algum outro texto tenha escapado”, explicou Marques na época.

Nova descoberta

Um ano depois da descoberta do poema, as palavras de Marques se tornaram verdadeiras. Uma pequena nota na primeira página da edição do dia 20 de agosto de 1858 do "Correio Mercantil" anunciava que um "modesto e muito jovem ator", Machado de Assis, lançaria um livro. Na publicação de 19 de janeiro de 1860, uma nota maior revelou o nome da possível obra: "Livro dos Vinte Anos".

Curioso, o professor começou uma busca incessante para encontrar o tal livro e acabou achando um anúncio no "Correio da Tarde" com detalhes sobre o lançamento.

Segundo a publicação, o livro teria de 200 a 240 páginas, com a assinatura de 2 réis podendo ser adquirida na tipografia do senhor Paula Brito, onde era impresso. “Os escritores vendiam o livro antes de publicar, juntavam o dinheiro e pagavam o editor, por isso que no anúncio está [escrito] 'assinam-se nas casas de costume'”, explicou o professor.

Mudança para o teatro

O "Livro dos Vinte Anos" seria a primeira obra de Machado de Assis, mas nunca chegou a ser publicado e não é mencionado em nenhuma biografia do autor. Uma das hipóteses para isso é que o escritor tenha desistido de lançá-lo e partido diretamente para o teatro.

“Machado publica os dois primeiros livros dele na literatura. Um primeiro livrinho saiu em junho de 1861, com um nome bem sugestivo, ‘A queda que as mulheres têm pelos tolos’, e em setembro é publicada uma peça chamada ‘Desencantos’. O dado curioso é que tanto 'Queda' quanto 'Desencanto' foram publicadas pela mesma tipografia que anunciava o 'Livro dos Vinte Anos'”, contou Marques.

Outra possibilidade é que o escritor tenha descartado todos os poemas românticos.

“Os poemas de antes de 1860, que seriam, teoricamente, os poemas românticos, Machado de Assis simplesmente quer esconder da sua produção, o que, de certo modo, é mais um dado que explica essa possibilidade. Acho que o Machado quis, literalmente, enterrar esse livro e não contava que um chato ia descobrir esse seu desejo”, concluiu o professor.

Fonte: Blog do Galeno

Um comentário:

  1. O professor Wilton Marques certamente ganhará outros "concorrentes" na busca por materiais até então perdidos ou esquecidos do Machado de Assis. É uma busca saudável, pois ajudará no preenchimento de lacunas que podem em muito desvendar mistérios de nossa história recente. Não penso que devemos simplesmente "olhar pra frente", como alguns sugerem, a nossa história é rica e devemos sim olhar para trás, passar um verdadeiro pente-fino para que possamos compreender boa parte dos momentos que nossos ancestrais viveram.

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